Violência

PMs são presos após balear primos dentro de carro no Rio

Caso aconteceu na noite desta quinta em São Cristóvão

Marcas de tiros no veículos onde os ocupantes estavam
Marcas de tiros no veículos onde os ocupantes estavam |  Foto: Péricles Cutrim

Os policiais militares envolvidos na ocorrência em que três pessoas foram feridas em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, nesta quarta-feira (25) estão presos.

Os PMs foram identificados como William de Castro Valladão, do 4ª BPM (São Cristóvão), André Luís da Silva Rodrigues e Bruno Batista Gama. Eles são acusados de tentativa de homicídio.

Além deles, estão presos também Nívea Ághata Fernandes da Silva, de 24 anos, que dirigia um Ônix prata, o primo João Victor Andrade de Oliveira, de 23, e a esposa dele, Yasmim Gomes dos Santos, de 18 anos. Os três são acusados de roubo, já que a polícia perseguia um carro que havia acabado de roubar um casal quando tudo aconteceu.

Nívea está no Hospital Quinta D’Or, em São Cristóvão, com uma bala alojada no cérebro. O primo dela, João, está no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. Ambos estão sob custódia. Já Yasmin está na 19ª DP (Tijuca), de onde será transferida para um presídio feminino.

O advogado Sandro Figueiredo, que defende o cabo William de Castro Valladão, afirma que os policiais foram presos por tentativa de homicídio, mas que os agentes não foram ouvidos na delegacia. Ele ainda conta que, no momento do ocorrido, os policiais não pegaram as supostas armas que estavam com Yasmin, Nívea e João Victor porque a prioridade era salvar a vida das pessoas, mesmo com esses jovens sendo acusados de roubo.

“Foi um verdadeiro absurdo a autoridade policial dar o flagrante. Os policiais militares estavam no exercício da função e receberam um chamado de transeunte, uma comunicação de que eles foram roubados, iniciaram uma perseguição, onde, em rua deserta, próximo a comunidade, escutaram disparos de arma de fogo, que não acertaram a viatura. Os agentes agiram em legítima defesa, deram voz de prisão aos jovens, foi encontrada a rês furtiva da vítima e mesmo assim a autoridade policial entendeu por bem prender os militares por homicídio tentado. O que a defesa dos agentes entende que foi um verdadeiro absurdo, uma decisão equivocada e usaremos os remédios jurídicos cabíveis para tentar reverter essa injusta prisão”, contou ele que pretende pedir as câmeras da rua no momento do ocorrido.

Sandro ainda afirma que quer que os policiais sejam ouvidos. Ele afirma que os três jovens estavam armados. “Os policiais me relataram que, no curso da perseguição, os jovens foram jogando as rês furtiva do veículo e quem garante que não jogaram as armas também?”. As câmeras dos uniformes dos policiais, segundo ele, também serão solicitadas, mas podem estar sem bateria.

O que diz a defesa de Yasmin 

A defesa de Yasmin afirma, pelo contrário, que nada foi encontrado com os jovens e que as vítimas do roubo não os reconheceram.

Márcia Daflon, advogada da Yasmin, informou que sua cliente foi presa em flagrante por roubo, no entanto, segundo ela, nada foi encontrado no veículo em que estavam os três jovens.

“Fica difícil explicar a decisão do delegado em pedir a prisão em flagrante das três vítimas, que foram alvejadas a bala e provavelmente confundidas com um outro carro ali. Foi pedida a prisão deles por assalto. A Yasmin me contou que estava com o esposo e a prima dele e saíram para um lanche. Eles viram a viatura atrás deles ligada, a Nívea que estava dirigindo deu passagem para a polícia, quando ela deu passagem, eles foram alvejados. A Yasmin trabalha, de carteira assinada”, afirmou.

Segundo Márcia, sua cliente irá para um presídio feminino em Benfica, onde passará por uma audiência de custódia. “Eu acabei de conversar com ela. A Yasmin não está entendendo o motivo disso. Ela está chorando que nem uma criança, com medo do que vão fazer com ela no presídio. Não é a realidade dela e até agora estou tentando entender o pedido de prisão em flagrante. já que eles são vítimas. O dono do telefone roubado, inclusive, não reconhece nem a Yasmin, nem o João, nem a Nívea. Não há provas, não havia armas com os três jovens. Existem vídeos da polícia mexendo no carro depois do ocorrido. A Yasmin está em choque”, contou ela.

Segundo Bruno Gomes, irmão de Yasmin, a irmã está grávida de três meses, versão não confirmada pela advogada, que diz não ter conhecimento da informação. A Yasmin foi a única que não foi atingida pelos tiros.

Sobre um suposta ficha criminal do marido de Yasmin, a advogada também diz não ter conhecimento. “Não justifica a prisão deles nesses crime. A Yasmin completou 18 anos no último dia 20, ela trabalha e nunca passou por nenhum processo”, contou Márcia.

Carro alugado

O carro Ônix prata onde estavam os três jovens era alugado. Nívea o utilizava há três meses para trabalhar como motorista de aplicativo. O carro é de uma amiga dela, que também esteve na delegacia para esclarecer a situação.

“A família da Nívea me pediu pra vir aqui. Somos amigas há 2 anos, por aí, eu tenho uma loja de roupa e ela passou de cliente para amiga. A polícia está falando que o carro é alugado de uma locadora, mas é meu, eu que alugo pra ela e a Nívea me paga semanalmente. Estou assustada com tudo isso, vi na televisão e não estou entendendo. Ela está em coma no hospital, com uma bala no cérebro e, até aonde eu sei, nunca teve envolvimento com nada. A Nívea pegou o carro ontem na oficina e ia me devolver hoje”, afirmou essa amiga que não quis se identificar.

A Polícia Civil confirmou a prisão dos policiais e dos três jovens. Em nota, de acordo com a 17ª DP (São Cristóvão), "os ocupantes do veículo foram presos em flagrante pelo crime de roubo e os policiais por tentativa de homicídio. A perícia foi realizada no local e as armas foram apreendidas para perícia. As investigações seguem em andamento."

O caso

Dois primos foram baleados durante uma perseguição entre policiais militares e criminosos, na noite desta quarta-feira (25), na Rua São Luiz Gonzaga, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio. Nívea Ághata Fernandes, de 24 anos, foi uma das vítimas do caso e foi atingida por cinco tiros. Já seu primo, João Victor de Oliveira, de 23 anos, foi atingido de raspão na perna.

Segundo informações de Bruno Eduardo dos Santos Gomes, irmão de Yasmin dos Santos, de 18 anos, testemunha e vítima do caso, tudo aconteceu quando Yasmin, o esposo João Victor e a prima dele Nívea voltavam de um lanche. Eles tinham assistido ao jogo do Flamengo e depois resolveram sair para comer. 

"Eles escutaram uma perseguição policial e quando minha irmã viu, o carro dela tinha sido alvejado de tiros. O carro em que ela estava era um Ônix prata. Os policiais informaram na delegacia que estava procurando por um Cobalt branco, que estava com criminosos que tinham acabado de assaltar um casal próximo, um carro totalmente diferente. Eles falaram isso na delegacia após o ocorrido. Só queremos explicação de tudo o que ocorreu e a melhora da Nívea, que está internada em estado grave", afirmou ele.

João foi atingido de raspão na perna e levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. Nívea, que dirigia o veículo, foi atingida por cinco tiros, sendo dois na cabeça, dois no tórax e um no braço esquerdo. Ela está internada em estado grave no Hospital Quinta D’Or, em São Cristóvão. Segundo Bruno, ela passou por cirurgia, mas ainda está com uma bala alojada na cabeça.

< Idosa cai em valão e desaparece durante temporal na Baixada; vídeo Leticia Colin mostra foto 21 anos atrás com Cauã Reymond; confira <